O CIATI, tem como por objetivo através do Grupo de Orações, respeitando a crença de cada um, é fazer destes minutos um momento de reflexões, divisão de experiências e partilhando a visão espiritual de cada membro.
O crescente aumento e interesse das pesquisas sobre o papel religião e da espiritualidade têm demonstrado sua influência na saúde física, mental e social. Tanto é verdade que a Organização Mundial da Saúde (OMS) despertou o interesse em aprofundar as investigações nessa área, com a inclusão do aspecto espiritual no conceito multidimensional de saúde.
O envelhecimento, característica pertencente ao homem, é entendido aqui como um fenômeno que se insere num processo de desenvolvimento, de crescimento, de aprendizagem, de amadurecimento e de aperfeiçoamento humanos. Assim sendo, o idoso precisa ter atitudes positivas na vida, dentre estas, a primeira: a de aprender a viver consigo mesmo, a conhecer-se tal como se é em todas as dimensões. Tais atitudes são necessárias porque não há uma existência humana plenamente feliz e completamente protegida das intempéries e incertezas da vida. O ser humano é motivado principalmente a desenvolver as suas potencialidades.
O envelhecimento abrange problemas biológicos, fisiológicos e psicológicos que produzem crises existenciais, no entanto, trata-se de um fenômeno normal na vida. Como em todos os momentos do desenvolvimento vital, ao chegar à última etapa da vida, o ancião sente ainda surgir em si algumas perguntas inevitáveis: Quem eu sou? Por que estou neste mundo? Que sentido tem a minha vida? Para onde vou? Como tenho vivido os anos que passaram? Como posso viver bem os próximos anos? Como em toda crise existencial, também essa, a da última etapa, não pode ser superada de modo válido senão por meio da renovação da interioridade. A espiritualidade evidencia a existência de “potenciais forças escondidas no homem que o envelhecer faz desabrochar”.
A dimensão espiritual na vida humana talvez seja, segundo Leonardo Boff,“uma das transformações culturais mais importantes do século XXI”. Mas isto só aconteceu depois de muitas desconfianças e suspeitas, com todas as características da secularização dos últimos dois séculos. Esse contexto era uma avalanche provocada pela convergência de todas as ciências para tentar reduzir a religião ao silêncio e manter Deus distanciado da realidade humana. Antes do término do milênio, o vaticínio da morte de Deus e os sinais da morte do cristianismo começaram a ceder espaço ao religioso. Releve-se que esse despertar do religioso vem ocorrendo tanto na área da saúde física quanto na da saúde mental, ainda que, na área da saúde, muitos profissionais espelhem o processo da secularização. A busca pós-moderna da espiritualidade parece um fato típico da cultura ocidental contemporânea que, com a modernidade, passou pelo processo de secularização. Essa busca pós-moderna da espiritualidade ocorrerá mais no Ocidente, que padece da fragmentação induzida pela razão analítica, científica e tecnológica individualizante.
Nessa busca de espiritualidade, percebe-se a manifestação de uma variedade de formas, pois a palavra espiritualidade designa as mais diversas realidades até as que se distanciam umas das outras. Por isso, fala-se de espiritualidade cristã, judaica, mulçumana, oriental, etc. Dentro do cristianismo, cada uma das confissões desenvolveu uma espiritualidade específica: anglicana, católica, ortodoxa, protestante e outras mais recentes. Há também, no seio da tradição católica, uma pluralidade de espiritualidades: a espiritualidade litúrgica, bíblica, monástica, ecumênica, carismática, etc. Assim, a espiritualidade é uma maneira particular de vivenciar a religião cristã, sem que se oponha a ela. Não há um distanciamento entre o pessoal e o institucional, muito menos a recusa de um Deus pessoal em favor de um sagrado ou divino impessoal. Neste sentido, seguindo uma das linhas de espiritualidade da tradição católica, o monge beneditino Anselm Grün aponta, como parte da busca de uma unidade vinculante, duas fontes de espiritualidade:
A espiritualidade de baixo significa que Deus não nos fala unicamente através da Bíblia e da Igreja, mas também através de nós mesmos, daquilo que nós pensamos e sentimos, através do nosso corpo, de nossos sonhos, e ainda através das nossas feridas e das nossas supostas fraquezas. A espiritualidade de cima começa pelos ideais que nós nos impomos. Parte das metas que o homem deve alcançar [...]. Existe uma sadia tensão entre estas duas abordagens. A espiritualidade de função positiva, porque desperta em nós a vida. Ela só passa a ser doentia quando os ideais perdem a ligação com a nossa realidade [...] e a pessoa cai na divisão interior e adoece (Grün, 2004, p. 7-16).
Se o ser humano se encontra fragmentado em diferentes níveis(físico, mental, social, cultural, ambiental e espiritual) é porque a inteireza do ser não tem sido respeitada em cada ciclo do desenvolvimento humano. Em cada um deles, o indivíduo necessita aprender a amar, “aprender a conhecer, a aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser” (Delors, 2000, p.69-102), a crer e a adaptar-se de acordo com as circunstâncias, expandindo sua consciência rumo à inteireza, dando-lhe sentido e, conseqüentemente, promovendo a qualidade de vida. Para superar essa fragmentação (sobretudo a do nosso eu pessoal), faz-se necessário uma educação que se estenda ao longo de toda vida e passe pela aprendizagem da humildade de descobrir e revelar o tesouro escondido em cada ser humano. É este o caminho da Espiritualidade de baixo (em sintonia com a de cima, ou seja, com os ideais que devemos buscar), a humildade, entendida como “a coragem de aceitar a verdade sobre si mesmo” (Grün, 2004, p.11). Se o ser humano aceita chegar à velhice considerando- a como uma etapa em que se pode crescer até transcender o próprio “eu”, poderá estender o seu ser muito além do “eu” individual até a inclusão de toda família humana, que é uma parte daquela “rede ecológica” conectada com as outras partes do universo da qual nós somos responsáveis.
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